Em 2009, Batman: Arkham Asylum provou que franquias criadas em outras mídias podem, sim, virar grandes games. Mais do que isso, mostrou à indústria que a única maneira de lançar jogos desses personagens não é aproveitando sua popularidade em época de lançamentos cinematográficos.

Os estúdios aprenderam a lição. Transformers: War For Cybertron devolveu aos robôs sua dignidade nos consoles. Agora, o Homem-Aranha retorna aos videogames depois de alguns títulos esquecíveis, com um jogo que está entre os melhores e mais conceitualmente embasados do personagem da Marvel Comics. Spider-Man Shattered Dimensions aposta no histórico de versões do aracnídeo nos quadrinhos para propor um tipo de jogo diferente: fases em dimensões alternativas do super-herói.

A premissa é simples. Depois de ter um assalto frustrado pelo Homem-Aranha, o ilusionista Mysterio vê seu objeto de desejo, a Tábua da Ordem e do Caos, ser fragmentado. Cada pedaço vai parar em um lugar diferente do tempo e espaço. Preocupada com a ordem do universo e os poderes do artefato, a Madame-Teia, uma antiga aliada do Amigão da Vizinhança, recruta quatro versões distintas do herói para recuperar os cacos. No nosso tempo, o Sensacional Homem-Aranha parte para a missão. Na época dos gângsteres, o Homem-Aranha Noir recebe alguns poderes adicionais e se esgueira em busca dos fragmentos. Em uma dimensão paralela e contemporânea à nossa, o jovem Homem-Aranha Ultimate usa suas habilidades para ajudar. No futuro, Miguel O'Hara, o Homem-Aranha 2099, terá que encarar o poder estabelecido do Olho Público e alguns supervilões para resgatar seus pedaços da tábua.

Como o objeto que precisa ser recuperado e reunido, o jogo é segmentado em fases alternadas em cada dimensão. São liberadas quatro fases por vez, sendo que todas precisam ser concluídas para abrir as quatro próximas. A ordem em que elas são realizadas, porém, é irrelevante. Cada versão do herói funciona dentro de regras básicas do personagem (são os mesmos botões para disparar teia, balançar-se, dar socos, etc), mas possui habilidades próprias. O Sensacional Homem-Aranha é o mais normal. Limita-se aos comandos básicos, sem grandes mudanças. O visual de seu universo é o mais cartunesco, cell-shaded, imitando ilustrações. O Ultimate é o mais agressivo e poderoso, podendo acessar as habilidades de Venom (ele veste o uniforme simbionte), dentro de cenários um pouco mais realistas. O Aranha 2099, com ambientação futurista de alta tecnologia, é o mais veloz, podendo desacelerar o tempo, e a jogabilidade nessa fase inclui sequências em que ele tem que planar em queda livre. O último, o Aranha Noir, tem as fases mais distintas. A jogabilidade furtiva é copiada descaradamente de Arkham Asylum e o visual - excelente - é todo em tons de cinza constrastados.

Ainda que as dimensões tenham suas diferenças, o estilo de jogo é extremamente repetitivo. Cada fase abre com o herói encarando um vilão poderoso (Kraven, Abutre, Duende 2099, Cabeça-de-Martelo, Escorpião, Homem-Areia...) e seus asseclas (ou uma terceira força) para depois enfrentá-lo novamente, mais poderoso, sob o efeito do fragmento que o Aranha tenta recuperar. Os desafios incluem sub-fases obrigatórias como "salve os inocentes" e uma corrida atrás do vilão. Uma vez que as quatro primeiras fases foram jogadas há poucas sequências inusitadas, apenas a dificuldade é aumentada. Nada muito difícil de resolver, no entanto, já que a inteligência artificial dos inimigos é terrível (na fase Noir é possível capturar criminosos ao lado de seus colegas, contanto que eles estejam olhando para o lado).

A repetição se torna enfadonha depois de algum tempo, mas como a desenvolvedora Beenox limitou cada fase a algo entre 30 e 45 minutos, a repetição não fica tão óbvia e o jogador se mantém entretido e querendo conferir a próxima sequência, que algumas vezes são realmente interessantes. Alguns níveis e principalmente os vilões são muito divertidos. A fase do Homem-Areia, por exemplo, é uma das melhores, com o personagem tendo que agarrar-se em destroços voadores para ir de um ponto a outro no mapa. A escala das fases - todas lineares - é igualmente empolgante e explorá-las rende bons tesouros, que podem ser convertidos em poderes, habilidades e outros bônus, como uniformes adicionais para o personagem. Há dezenas de possibilidades para comprar e ficar "aracnotunado".

Em relação à história, o texto do quadrinista Dan Slott é bastante superficial, mas os atores contratados para a dublagem (que incluem Neil Patrick Harris, Christopher Daniel Barnes, John DiMaggio, Jim Cumminge e Nolan North) conseguem se superar com o pouco que têm. Não me lembro de outro game do Aranha com vozes tão condizentes com os personagens.

Ainda que sofra com os problemas relacionados, Spider-Man Shattered Dimensions é um game bem planejado e que garante 10 ou mais horas de entretenimento leve. Uma boa direção para os games do aracnídeo, que ultimamente teimavam em cenários de mundo aberto mal-realizados. Uma sequência que acrescentasse mais versões do personagem, variações de estilo de jogo e fosse desenvolvida aprendendo com os erros desta seria extremamente benvinda.

Fonte:www.omelete.com.br/games/critica-spider-man-shattered-dimensions/

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