Em "Dois Irmãos", estreando em circuito nacional, o cineasta argentino Daniel Burman aborda a relação entre um casal de irmãos, ambos na maturidade, solteiros e solitários. Eles se odeiam, mas a solidão é maior do que esse ódio e cinismo mútuos. Por isso, estão sempre juntos.

Desde "Ninho Vazio" (2008), o diretor argentino abandonou sua zona de conforto, que consistia em falar dos homens na faixa dos 30 anos, e passou a investigar personagens mais maduros.

Susana (Graciela Borges, de "O Pântano") vive de especulação imobiliária e obtém boa parte dos itens em sua despensa ao se infiltrar como penetra em festas. Sempre que possível, menospreza o irmão, Marcos (o comediante argentino Antonio Gasalla), que trabalhava com ourivesaria e cuidava da mãe, que morre logo no começo do filme.

Cinismo é a palavra que melhor define a relação entre Susana e Marcos. Há sempre um jogo de palavras entre eles; nunca dizem o que pensam e estão sempre encobrindo seus reais motivos -- especialmente ela.

Logo após a morte da mãe e a aposentadoria de Marcos, Susana trata de despachar o irmão para uma pequena vila no Uruguai, onde eles terão pouco contato. Afinal, como ele vive reclamando, ela sequer habilitou o roaming do celular dele.

O roteiro, escrito pelo próprio Burman, em parceria com o escritor Diego Dubcovsky, autor do livro original, é um estudo de personagens, acompanhando a transformação dos irmãos, que mantêm contatos esporádicos que, quase sempre, terminam em desentendimento.

No arco de evolução de Marcos e Susana, o amor terá um papel fundamental, transformando-os em pessoas menos apáticas e mais generosas. Isto acontece especialmente quando Marcos começa a participar de um grupo de teatro na vila uruguaia onde mora.

O diretor da peça quer montar um "Édipo Rei" anticonvencional, sem a presença da personagem Jocasta, mas enfrenta problemas com o provincianismo local.

Já Susana, numa festa na embaixada do Brasil, conhece um alemão, que ela confunde com Clint Eastwood, investindo numa aproximação com quem pensa ser uma celebridade.

Para que o retrato dessa dupla seja convincente, Burman conta com a presença de dois grandes atores. Graciela e Gasalla dão a dimensão humana necessária para os personagens dessa comédia melancólica parecerem realmente humanos e não meras caricaturas. Não é fácil encontrar o tom, mas a sintonia da dupla garante momentos de riso e ternura.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

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